Equilíbrio emocional e o estudo das emoções
por Cerys Tramontini
Mente clara e bem-estar emocional são essenciais para a condução dos trabalhos de uma pessoa que deseja ser agente de paz. Para além da busca em transformar a narrativa do conflito, muito possivelmente essa atuação obterá mais qualidade se implementada uma transformação efetiva na base a partir da qual pode-se olhar a situação que está sendo trabalhada.
As emoções compõem grande parte da substância de nossas vidas. Nos guiamos e tomamos muitas decisões tendo-as por base. Muitas pesquisas demonstram que a nossa inabilidade para lidar com as emoções pode sustentar ou escalonar conflitos em vários níveis. Familiarizar-se e investigar esse campo das emoções, em nossa abordagem, é fundamental. Por isso, agentes de paz podem desempenhar melhor sua ação ao desenvolverem a capacidade de não confundir quem se é verdadeiramente com seus estados emocionais. Não somos nossas emoções nem nossos pensamentos. Então, o que somos? Esta é uma pergunta que demanda investigação mais elaborada e este é o convite para agentes de paz.
O estudo das emoções é um campo vasto e não há consenso entre os cientistas sobre como defini-lo. A neurocientista brasileira Elisa Kozasa (2012) afirma que o processo de como indivíduos se emocionam segue vários estágios, que começa nos órgãos sensoriais até desencadear uma série de reações em nosso sistema nervoso central. Como boa parte de nossas decisões são tomadas tendo como base as emoções que se desencadeiam em nossos corpos, estudar e investigá-las com cuidado e interesse pode ser um fator determinante na qualidade dos pensamentos, palavras e ações que produzimos em nossas interações.
Em nosso programa de pós-graduação, estuda-se a emoção principalmente a partir das ideias de Paul Ekman, psicólogo estadunidense pioneiro no estudo das emoções e expressões faciais e co-criador do Programa Cultivating Emotional Balance (CEB). Ekman foi considerado um dos cem mais notáveis psicólogos do século XX e é referência internacional nessa temática. Para Ekman (2007), as emoções determinam o teor de qualidade de manifestação de nossas vidas e estão presentes como um elemento importante em nossos relacionamentos: seja no local de trabalho e relacionamentos institucionais, como em nossas relações interpessoais. Observada adequadamente, a prática de apropriação de como as emoções funcionam em nosso organismo pode contribuir para estabelecermos relações saudáveis e que promovam bem-estar e como sua ausência pode causar danos reais: ao agirmos por impulso, tomando decisões de maneira intempestiva com base em um discernimento equivocado dos fatos, não condizente com o que a realidade objetiva esteja apresentando, pode-se obter arrependimento terrível mais tarde, ou até mesmo ter consequências com a lei.
Sentir medo, raiva, aversão, tristeza ou angústia são aspectos da realidade da vida, assim como alegria e surpresa. Portanto, familiarizar-se com os processos em que as emoções orbitam é fundamental para a busca do bem viver. Eve Ekman, define a emoção como resultado de um processo no qual sentimos que algo importante para o nosso bem-estar está ocorrendo e, a fim de lidar com a situação, um conjunto de mudanças fisiológicas e comportamentais começam a acontecer. É um tipo peculiar de avaliação automática influenciada por nosso passado (Ekman, 1992).
As emoções são episódicas (ou seja, sua duração é relativamente curta), fazem parte de nossa estrutura biológica e são formadas por padrões de base também biológica de percepção, experiência, fisiologia, ação e comunicação, que ocorrem em resposta a desafios e oportunidades específicas, sejam estas físicas ou inter relacionais. Importante ressaltar aqui que as emoções podem ser experienciadas de modo construtivo ou destrutivo; dependendo da forma pela qual nos envolvemos com elas. As construtivas são propícias à nossa própria felicidade e à dos outros, além de aumentar nossa capacidade de cooperação e colaboração. As destrutivas, quando resultam em reações automáticas, causam arrependimento e são incompatíveis com nossa própria felicidade e a dos outros.
As emoções são naturais, portanto fazem parte de nossa constituição e podem ser desencadeadas de diferentes maneiras, por estímulos externos ou internos. Pode-se reagir de forma automática ou atenta a cada emoção que surge. A reação automática é um comportamento produzido por meio de hábitos e inconsciência sobre o processo emocional como um todo, enquanto a reação atenta ocorre quando há consciência de si e do processo emocional. Paul Ekman, em sua vasta pesquisa sobre as emoções, mapeou sete pronunciadas universais, que são comuns e encontradas em todas as civilizações autóctones: raiva, nojo, desprezo, medo, surpresa, tristeza e alegria (Ekman, 2003).
De acordo com Eve Ekman, as emoções são elicitadas por um gatilho emocional interno ou externo e todos os processos emocionais decorrentes recorrem a uma espécie de “banco de dados” construído a partir de nossas experiências, histórias e memórias. Nosso treinamento como agentes de paz consiste em assumir uma postura de observação perante qualquer emoção, olhando-as sem juízo de valor, vendo-as simplesmente como emoções que emergiram e, assim, permitir que se manifestem sem que nos arrastamos por elas.
Quando acolhemos de forma relaxada as emoções que passam por nós é possível ressignificar a percepção sobre aquele episódio. As emoções vêm e vão como um processo natural da vida, sem esforço. A investigação e a familiarização com estes processos emocionais são importantes para agentes de paz porque apoiam sua instrumentalização para saber lidar com as emoções como recurso a suas escolhas.
Convidamos você a assistir a Live sobre a importância do Equilíbrio Emocional para o Agente de Paz, já disponível em nosso canal.